E temos aqui mais um Diário de Campanha no blog! Dessa vez escrito em primeira pessoa, forma de escrita que faz um bom tempo que não adoto, mas espero que gostem.

Se quiserem saber um pouco melhor sobre o cenário, leia essa postagem antes. No final da história desse dia, estará um PDF com as minhas anotações da jogatina. Não sei se farei isso, de deixar PDF com as notas, em toda campanha que jogo, mas estou fazendo isso como um experimento. Aceito feedbacks tanto aqui no WordPress como nos outros lugares que divulgo os diários.

Boa leitura ^^

CAPÍTULOS POSTADOS

Introdução

Talvez eu não precise dizer muito das coisas que aconteceram nos últimos meses. As pessoas por aqui achavam que estavam minimamente seguras já que o caos estava do outro lado do mundo, mas em poucas horas o inferno chegou até a gente, não em forma daquela criatura gigante com cabeça de polvo e asas de dragão e sim dos seus servos.

Templos religiosos, bibliotecas e outras instalações foram destruídas pelos fanáticos que cultuavam aquele monstro e criaturas menores, no mínimo do tamanho de um homem adulto, saíram do mar. Eu e algumas pessoas conseguimos sair do litoral, não sei como. Os dias que se seguiram foram agitados. Tanta coisa aconteceu que mal recordo a ordem dos acontecimentos. Eram apenas mortes e mais loucura. Só posso dizer que o resultado foi o fim dos governos, morte de milhares de pessoas e vários monstros sendo relatados no mundo todo até as comunicações caírem.

Devo dizer que demorou um bom tempo para nós conseguirmos fugir de boa parte disso tudo… O meu grupo tinha conseguido se estabelecer num galpão onde era uma área industrial não muito longe de Lisboa. A gente ainda precisava sair de vez em quando para conseguir suprimentos e materiais, mas era melhor que no começo de tudo.

Porém, certo dia… Ah, como fui idiota! A gente ficou tempo de mais fora da base, já havia anoitecido e aquela coisa atacou o Miguel. Eu, sem pensar duas vezes, tentei fazer alguma coisa. Aquela fera também me atacou e quase morri. Meus amigos não deviam ter me salvado. A gente devia ter percebido o que era aquela coisa e o que aconteceria por eu ter sobrevivido àquele ataque. 

Uma lenda tão antiga que se ouve falar desde criança e em nenhum momento paramos para pensar que aquilo era um Arbac-Apuhc, um Licantropo. Miguel morreu, mas eu sobrevivi. A recuperação dos meus ferimentos foi rápida e coisas sutis estavam mudando em mim aos poucos, mas ninguém percebeu, até aquele dia.

Não sobrou ninguém, eu só lembro de flashes rápidos e é horrível! Depois disso a fera dentro de mim ficou mais evidente, os sentidos mais apurados, uma fome acima do normal e uma vontade de…

Demorei uns dias para botar minha cabeça no lugar e decidir o que fazer. Na realidade ainda estou confuso, mas percebi que consigo manter o meu temperamento mais próximo do normal comendo carne crua de animais de vez em quando, aí digamos que aquilo sai da minha cabeça. Mas ainda é complicado lidar com isso.

Pensando bastante sobre isso, decidi que é melhor eu me instalar numa área com maior concentração de florestas e animais. Assim evito me esbarrar muito com outros sobreviventes e é mais fácil de caçar, além de evitar que eu acabe me matando mexendo com monstros mais fortes que eu. Sinceramente não sei como posso agir, não sei direito ainda como essas coisas funcionam ou ainda se há a possibilidade de eu conseguir me controlar quando me transformo num monstro…

Amanhã vou soltar os animais do criadouro e procurar algum lugar para ficar. Eu não sei se perdi a noção do tempo nos dias que fiquei digerindo tudo que aconteceu ou de alguma forma a presença daqueles monstros mudou o curso natural das coisas, só sei que não posso adiar minha saída daqui.

Eu poderia reforçar as coisas deste lugar para me manter contido, mas eu não consigo continuar aqui. Simplesmente não consigo.

I

Acordei algumas vezes durante a madrugada até amanhecer e eu decidir me levantar. Mesmo fazendo mais de uma semana que os matei, ainda é difícil. Tentei colocar na minha cabeça que ninguém esperaria uma coisa daquela e que aquilo não era minha culpa, mas ainda era complicado e talvez parte de mim não acredite nisso. 

De uma forma quase automática, chequei se na minha mochila estava tudo que eu pretendia levar e depois abati um dos leitões do criadouro. Tentei não levar muito tempo para comer e reservar um pouco de forma que não estragasse para que eu pudesse comer depois no caminho. Fora isso, peguei alguns enlatados com carne, mas talvez não funcione tão bem. Preciso sair logo, não sei quanto tempo vou demorar para encontrar algum lugar bom para utilizar como refúgio.

Depois de cuidar do necessário, soltei os animais do criadouro. Alguns foram embora sem pensar duas vezes, outros hesitantes, especialmente os mais novos. Mesmo deixando para trás algumas coisas que eu poderia aproveitar, é improvável que eu retorne, então não tem porque mantê-los aqui morrendo de fome, mesmo que não demore muito para algum monstro ou animal os matar.

Antes de partir, demorei um pouco na frente do refúgio, me lembrando da quantidade de sangue que estava no chão e nas paredes quando voltei a mim naquele dia. Espero que, se existe algo do outro lado, que Deus os permita descansar e que eles me perdoem.

Andei pelas ruas de concreto rachadas, que logo se tornaram terra, na direção que eu sabia que havia uma área rural, cercada por uma floresta. Esperava encontrar um lugar que pudesse aproveitar, talvez os restos de uma fazenda ou uma casa de caça. Passei algumas horas andando pela área, atento a tudo ao meu redor e segurando a minha escopeta, para não ser surpreendido por nenhum monstro. Encontrei um animal ou outro, mas nenhum sinal de construção humana. Fiz algumas pausas para pensar no que fazer, devia saber que seria quase impossível encontrar alguma coisa dependendo da sorte.

Quando estava quase desistindo de procurar e considerando mudar de estratégia, de repente um cheiro estranho entrou pelas minhas narinas. De certa forma eu sentia que a fonte estava por perto, com isso segui naquela direção. Comecei a ouvir uma voz rouca, não entendia o que estava dizendo, então me aproximei o mais silencioso possível, então pude ver na beira de um rio um homem trajando um manto que não era possível ver o seu rosto, porém o cheiro dele era estranho, me dava náuseas… Ele se encontrava rodeado por algumas pessoas, de roupas esfarrapadas e comportamentos estranhos; e recitava uma espécie de ritual. Uma das pessoas estava na água com algumas marcações escuras pelo corpo, provavelmente será parte de um sacrifício.

O cheiro estranho que senti vinha da água. Esse Sacerdote pretende contaminar o local? Droga! Um rosnado leve escapou da minha garganta, não posso permitir que isso aconteça se quero ficar por aqui.

Eles são muitos. Mesmo se aquele cara estivesse sozinho, seria arriscado bater de frente. Pensei um pouco olhando ao redor, talvez eu possa usar as árvores ao meu favor. Posicionei na minha mochila a escopeta para subir com as mãos livres e escolhi uma árvore para escalar. Consegui subir mais fácil do que eu esperava. Quando cheguei numa altura boa, me posicionei num galho e peguei minha arma novamente.

Mirei na direção daquele homem. Ele estava bem concentrado no ritual, erguia um cajado em sua mão direita e fazia gestos enquanto as pessoas ao seu redor faziam movimentos como se estivessem em transe. Respirei fundo e devagar, me concentrando, após alguns segundos, puxei o gatilho. O Sacerdote interrompeu o seu ritual grunhindo de dor e rapidamente me posicionei para me manter o mais escondido possível.

Escutei ele mandar os insanos me procurarem e notei eles se aproximando. Alguns estavam logo abaixo de mim, porém não me notaram em cima da árvore.

Preciso acabar com ele e depois sair daqui o mais rápido possível.

Ao olhar na direção que estava o Sacerdote, notei que ele se moveu para próximo de uma árvore, onde dessa vez não seria tão fácil atingi-lo. Errar entregaria minha posição tanto pros insanos como pra ele, mas decidi arriscar.

Atirei de novo, mas infelizmente o tiro atingiu a árvore e os insanos abaixo de mim me viram, começando a gritar e tentar me derrubar da árvore. Um deles chegou perto de me alcançar. Consegui chutá-lo, mas outro segurou minha perna e me puxou, porém instintivamente as unhas da minha mão direita se transformaram em garras e me agarrei no tronco evitando minha queda.

Subi um pouco mais alto e percebi o Sacerdote se movendo novamente, andando na minha direção com seu cajado erguido. Vai, Ruan, você precisa acertar dessa vez! Segurei a escopeta da melhor maneira que conseguia, ainda tentando evitar os insanos abaixo de mim, e atirei novamente na direção do Sacerdote.

Me segurei no tronco para não cair pelo coice da arma e nesse instante percebi os insanos gritarem com enorme fúria e adiante avistei o Sacerdote caído no chão. Acertei!

Alguns dos insanos conseguiram me alcançar e um deles puxou minha perna, imediatamente usei minhas garras para me manter firme na árvore. Preciso me livrar deles! Chutei a cara do que estava me segurando, me movi entre os galhos e, mesmo estando um pouco alto, ao avistar um local onde não havia nenhum dos insanos, saltei. Consegui amortecer minha queda flexionando os joelhos e imediatamente comecei a correr enquanto os insanos urravam de raiva atrás de mim.

Me movi entre as árvores tentando criar o máximo de distância possível. Quando me afastei o suficiente para isso, desviei meu caminho e me escondi num pequeno declínio no solo que era escondido por alguns arbustos, assim os insanos passaram direto. Respirei de alívio e fiquei alguns minutos sentado recuperando o fôlego e descansando.

Foi um pouco inesperada a habilidade que tive tanto para me manter na árvore quanto para desviar de obstáculos no caminho da minha fuga. As garras meio que nos últimos dias já percebi que consigo fazer, apesar de algumas vezes as liberar de forma involuntária. Também, claro, a melhora de meu olfato e um leve aumento da minha força física são coisas que foram possíveis de serem percebidas nesses dias.

Mesmo fora daquela forma de um monstro, estou diferente de antes. Nos dias anteriores à “aquele” era algo tão sutil e gradual, mas agora… Pode até ser que eu não me livraria do Sacerdote e daqueles caras tão fácil se fosse como antes.

De repente, percebi um som de passos. Eles voltaram! Me mantive abaixado, não queria enfrentar tantas pessoas de uma vez. Tentei recuar para me afastar o suficiente para fugir, porém não percebi um deles próximo de mim. Este me atingiu com um galho de árvore e caí no chão com minha arma escapando de minha mão.

Um alto nível de adrenalina me veio de repente e senti meus dentes crescerem um pouco. Maldito! Filho da puta! Revelei as minhas garras e o encarei pelo canto do ombro. O insano tentou me acertar novamente, mas me esquivei rolando para o lado e imediatamente me levantei cortando sua garganta com minhas garras, fazendo-o cair no chão e agonizar enquanto o sangue saía tanto pelo corte como por sua boca. O cheiro forte de sangue invadiu o ar, apertei as garras com mais força em sua garganta dilacerando o local e assim matando-o. De repente, percebi os outros se aproximando.

 Respira… Calma, Ruan… Chega… Só quero assustar eles… Não preciso fazer nada além disso… Só faça eles irem embora.

Eram cinco os insanos que restaram. Os encarei rosnando tentando trazer um ar ameaçador. Dois deles arregalaram os olhos recuando, como eu queria, mas os outros possuíam uma expressão diferente e um deles fez um riso fraco. Droga, vou ter que matar esses caras!

Avancei na direção deles. Os mais assustados correram, enquanto os outros continuaram onde estavam. O primeiro conseguiu desviar do meu golpe, tentei me virar para acertá-lo, mas um segundo me deu uma joelhada no estômago. Não tive tempo de reagir, levei um soco que me fez cair no chão.

Antes que eu pudesse me recompor para me levantar, um deles pegou a minha escopeta e me deu um golpe na cabeça com o cabo dela. Senti um pouco de sangue quente escorrendo de onde fui atingido antes de levar mais um golpe e perder a consciência.

A imagem mostra um desenho com traço chibi (simplificado de aspecto fofinho) em preto e branco do protagonista tonto e atordoado. Logo acima um balão com a fala "Morri!"

Press F to Pay Respects.

Nos vemos na parte 2 ^^

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